A PERFEIÇÃO VEM COM A PRÁTICA

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segunda-feira, 5 de abril de 2010

FILOSOFIA E SOCIOLOGIA PODEM AJUDAR A DESENVOLVER O DOM DA GENEROSIDADE

Por Angelina Garcia

Hora e meia para aprontar o almoço, deixar as crianças no colégio e voltar ao trabalho. Vânia quase entra em desespero ao perceber que faltava sal em sua cozinha. Ninguém no apartamento ao lado, onde costumava buscar socorro. Sem opção, pegou o carro e correu ao supermercado. Para estacionar na única vaga, foi obrigada a descer e retirar dois carrinhos de compra que entulhavam a passagem. Enquanto os colocava no devido lugar, pode entender melhor a bronca do marido. Professor, Mário vivia se queixando do colega que deixava a matéria na lousa, para que os alunos terminassem de copiar na sua aula. Quando interpelado, o colega respondia:
- Eles é que são moles.
Não parou aí, pela cabeça de Vânia desfilaram personagens, cada um mais irresponsável que o outro. O caminhoneiro, por exemplo, para não perturbar o sono da família, deixava o caminhão bem em frente à janela do quarto de sua amiga Carla, acordando-a às cinco da manhã, de segunda a sábado. Cheio de razão, ele ainda enfrentava a vizinha, quando esta ia reclamar:

- Dona Carla, a rua é pública.

E as carteiras de seu tempo de escola. Vânia não entendia o prazer que alguém poderia ter em riscá-las, ou dilapidá-las a canivete. Menos ainda o que pensava o espertinho que adorava destruir seu suporte de lixo e o orelhão da esquina. Sem dizer daquele rapaz do outro quarteirão, que enfiava o carro na calçada, escancarava as portas e colocava o som no último, sem atinar para a criança dormindo, ou o idoso descansando. Havia, também, aquele que deixava a garrafa vazia de cerveja pela calçada, depois de sair bebendo do bar; além de uns e outros que não se preocupavam onde poderia cair tudo o que atiravam pela janela do carro: papel de bala, toco de cigarro, garrafas e copos de plástico.

Há dias em que uma atitude inadequada do outro nos faz perder a cabeça; noutros abstraímos o ocorrido a tal ponto que pode até nos passar despercebido. De uma ou outra forma, é importante pensarmos, como fez Vânia, o quanto se repete comportamento cujo autor não consegue sair do próprio umbigo. O resto que se lasque, pois ele precisa, ou exercitar sua rebeldia, ou resolver, de imediato, o seu problema. Embora nem todos ajam intencionalmente, estão comprometendo as possibilidades de uma boa convivência.

Ainda que a questão passe pela ética, pelo respeito ao outro, pelo egocentrismo, vai desembocar na educação. Educação que os pais esperam da escola e que a escola reclama porque os pais não dão. Nesse jogo de empurra ninguém se considera responsável quando se resulta um adulto inconseqüente. Seja qual for nosso tipo de relacionamento com uma pessoa em formação, é necessário lhe oferecermos oportunidades de se observar e perceber o quanto cada um dos seus atos, por mais insignificante que pareça, está contribuindo para um mundo melhor, ou pior.

A filosofia e a sociologia, como disciplinas então obrigatórias em nosso ensino médio, se conseguir fazer a ponte entre os achados dos estudiosos e a prática cotidiana de vida do aluno, poderá permitir, sem dúvida, que ele tenha um olhar mais generoso para si, para as coisas e para os outros. Não a generosidade do bonzinho, mas aquela de quem entendeu seu papel junto a seus pares. Entretanto, este é um exercício diário que começa em casa, desde sempre, quando atitudes de sociabilidade devem ser apresentadas, valorizadas e incentivadas, sem esquecermos o que me disse uma amiga: nossos filhos herdam não apenas os cromossomos, mas o como somos.

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