A Sopa Química - Nossa Alimentação Suicida - Parte I
Do livro A Sopa Química - Milton Maciel - IDEL, 2008.
Por Jaime Benedetti
Desequilibrio Essencial
O Desequilíbrio Essencial mostra a enorme discordância genética que existe entre a alimentação atual e a que foi praticada durante dois milhões e meio de anos ininterruptamente, durante o paleolítico, levando à formação do nosso genoma. Nos últimos dez mil anos, desde o início do neolítico, os humanos abandonaram a base nutricional do paleolítico e passaram a se alimentar de grãos processados, laticínios, carnes gordas, óleos vegetais e açúcares refinados. Mas não tiveram ainda tempo de se adaptar a essa mudança brutal, de forma que seus organismos reagem com respostas alérgicas agudas (doença celíaca, doença de Crohn, intolerância à lactose) ou crônicas, que provocam a grande maioria das doenças atuais não-transmissíveis e auto-imunes, como intolerância à glicose, resistência à insulina, resistência à leptina, diabetes, dislipidemias, obesidade, hipertensão, doenças cardiovasculares, artrose, artrite, cálculos renais e biliares, males de Alzheimer e Parkinson, esclerose múltipla e vários tipos de câncer.
A Sopa Química mostra que ainda hoje, em pleno século XXI, existem populações inteiras que não abandonaram sua base alimentar paleolítica. Exaustivamente estudadas por pesquisadores médicos contemporâneos (há 136 referências no livro), essas populações se mostram surpreendentemente isentas de todos os tipos de moléstias citadas acima, não tendo sequer excesso de peso e nem mesmo acne. São sociedades de pessoas saudáveis, longevas, felizes, amistosas, nas quais não ocorreu a submissão da mulher ao macho patriarcal e onde o poder e a autoridade são exercidos equilibradamente tanto por homens como por mulheres (pg. 59: Ilhas Trobriand, Kitava; Universidade de Lund, Suécia).
O livro descreve a prática da alimentação paleolítica adaptada para os dias de hoje e os impressionantes resultados obtidos nos tratamentos de diabetes, obesidade, artrose, acne e das demais doenças crônicas que são a grandes ceifadoras de saúde e de vida nos dias de hoje.
Há 10 mil anos uma grande catástrofe nutricional se abateu sobre os humanos como um todo, levando a uma rápida degenerescência física e a sérios problemas de saúde, a maioria dos quais veio piorando com o passar dos tempos, até se tornarem as grandes moléstias crônicas dos nossos dias, nos séculos XX e XXI.
A palavra catástrofe pode parecer exagerada, mas ela é a que melhor descreve a transformação acontecida na alimentação humana, ao passar da dieta paleolítica para a dieta neolítica. Nosso genoma, desenvolvido ao longo de mais de dois milhões de anos, nos quais a única alteração alimentar foi o domínio do fogo e a cocção de alguns poucos alimentos sempre primitivos, silvícolas, não teve tempo AINDA de se adaptar à brutalidade da transformação, que contrapõe alguns escassos milhares contra milhões de anos de evolução genética.
Essa crise de adaptação genética está na base de um grande número de moléstias que, na atualidade, são as que mais tiram vidas humanas. Os alimentos que temos hoje à nossa disposição agravaram ainda mais a catástrofe iniciada no neolítico e agravaram mais o desequilíbrio essencial.
Podemos dizer que, em que pese a sua sofisticação intelectual e o seu terno Armani ou seu vestido Paco Rabanne, você continua constitutivamente um caçador-coletor paleolítico! Seu corpo foi formado durante milênios em que ele só se alimentou de uma dieta variadíssima, com mais de cem diferentes "pratos", todos baseados em carnes magras de caça, peixe e marisco, insetos, frutas, verduras, raízes rústicas, castanhas, e ovos crus de aves silvestres.
Em contraste, temos a alimentação iniciada no neolítico, com o advento da agricultura: carnes gordas de animais de cativeiro, laticínios, carboidratos derivados de grãos e açúcares simples. Os animais de criação passaram, em nossos tempos atuais, a serem maçicamente alimentados com grãos também, apinhados em confinamentos onde o aumento da gordura saturada da carne é estarrecedor.
De uns dois séculos para cá, tivemos o advento do "beneficiamento" dos grãos, o que ocasionou uma piora extraordinária das suas já discutíveis propriedades nutricionais. Farinha de trigo e pão brancos, arroz branco e, como tiro de misericórdia, o açúcar branco refinado e seu parceiro tão ou mais pernicioso: o xarope de milho de alta frutose (XMAF = HFCS, High Fructose Corn Sirup, em inglês), que nos merecerá atenção especial mais adiante.
O grande problema que nós tivemos e temos ainda que enfrentar, tanto nos dias iniciais da agricultura como nos dias de hoje, é a incompatibilidade do nosso genoma multimilenar com o novo sistema de alimentação baseado em grãos e carnes gordas, acrescidos presentemente de açúcares refinados, óleos vegetais e gorduras trans.
Como nós continuamos sendo geneticamente iguais aos nossos ancestrais caçadores-coletores da Idade da Pedra Lascada, temos um genoma que se desenvolveu ao longo de mais de dois milhões e meio de anos até se tornar totalmente compatível com os tipos de proteínas, carboidratos, gorduras, vitaminas, minerais e fibras encontrados normalmente na dieta paleolítica.
Os tipos desses nutrientes presentes nas dietas de origem agro-pastoril neolíticas e atuais são muito diferentes, tanto qualitativa quanto quantitativamente daqueles da dieta paleolítica...
Ou mudamos os nossos hábitos alimentares já, ou pagaremos o preço na forma das chamadas doenças da civilização: moléstias não transmissíveis, crônicas, auto-imunes e a grande, a assustadora epidemia mundial de obesidade, cuja raiz maior provém do Desequilíbrio Essencial...
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