A PERFEIÇÃO VEM COM A PRÁTICA

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domingo, 28 de março de 2010

A SOPA QUIMICA VII

A Sopa Química - Nossa Alimentação Suicida - Parte VII



Por Jaime Benedetti

Do livro A Sopa Química - Milton Maciel - IDEL, 2008



Agora, se você não conseguir deixar o vício dos derivados de trigo, então o caso está totalmente perdido. Sua escolha! Ao menos, você adoece conscientemente.



É claro que, para a imensa maioria das pessoas, deixar de lado o trigo e seus derivados é simplesmente impossível. Deixar de comer o pãozinho nosso de cada dia e todas as centenas de alimentos que podem ser preparados com a farinha de trigo é apenas impensável! Devemos reconhecer que essas pessoas têm razão, estão reagindo a 10.000 anos de condicionamento organoléptico e psicológico.



Contudo é notável ver como os nativos das Ilhas Trobriand reagem quando passam por experiências médicas durante as quais devem experimentar comer pão e massas. A reação deles é de profunda contrariedade, já que nosso pão lhes parece extremamente desagradável ao paladar e a digestão do mesmo lhes resulta lenta, difícil, pesada. O mesmo ocorre com as massas.



Isso comprova que é tudo uma questão de condicionamento organoléptico proporcionado pelo hábito alimentar. Um outro exemplo pode ser mencionado aqui: o leitor ou a leitora devem lembrar perfeitamente da primeira vez, na infância ou adolescência, que provaram café preto, cerveja, vinho e uma bebida alcoólica mais forte, como uísque ou cachaça. A primeira reação, de um modo geral, é terrível. A criança costuma detestar o café, a cerveja ou as outras bebidas. No entanto, depois de muitas repetições, o adolescente acaba por se adaptar à aceitação daquele sabor terrivelmente amargo da cerveja, por exemplo. E depois, com as repetições, acaba até gostando desse sabor.



O fato é que, para se livrar dos graves danos potenciais à saúde ou, mais importante ainda, para procurar reverter danos que já estão acontecendo, é preciso que se faça um pouco de esforço, às vezes mesmo, para os mais viciados, um pouco - ou um muito - de sacrifício. Mas os resultados finais são mais do que compensadores. Nossa experiência demonstra que bastam três a seis meses de perseverança para que uma pessoa consiga se descondicionar da dieta contemporânea, com seus inúmeros sabores mortíferos (mas agradabilíssimos ao viciado) e se adaptar novamente à dieta de sua ancestralidade.



E aí a recompensa vai ser maravilhosa. Não só em termos de saúde, mas também em termos de prazer sensorial. O paladar se refina e então o sabor e o aroma de frutas e verduras, antes quase ignorados, passam a ser fortemente percebidos e se tornam altamente estimulantes. Algo antes impensável, se torna simples rotina: o aroma de um melão, por exemplo, pode excitar tremendamente a pessoa, que passa a desejar colocar na boca imediatamente um pedaço dessa fruta. Após algum tempo, o desejo por pães, massas, doces e fast-food vai cedendo lugar ao desejo por alimentos naturais, cujo sabor e aroma passam a ser os mais estimulantes. Daí em diante a transição se completa de forma quase automática.



Uma experiência similar pode ser relatada por aquelas pessoas que, por razões, filosóficas, decidiram abandonar o consumo de carne e se tornaram vegetarianas. Obviamente, nos primeiros tempos, elas tiveram que fazer bastante esforço para evitar o consumo de alimentos cárneos que ainda estimulavam fortemente o seu desejo. Mas, depois de algum tempo de resistência consciente e constante, essas pessoas passaram a se acostumar com o novo hábito alimentar, chegando a um ponto em que não só não têm mais desejo de comer carne e derivados, como também passam a ostentar uma nítida aversão a esses produtos. Essa é uma reação que se torna visceral, orgânica e não é mais uma reação mental, de base filosófica. Adaptar-se à dieta paleolítica é, portanto, algo em princípio bastante simples. O segredo está na perseverança, tão somente. Deixar a comida ocidental do dia-a-dia e sua contraparte mais terrível, a fast food, acaba tendo a mesma conotação de deixar de fumar. Trata-se de lutar e perseverar para abandonar um vício danoso.



Ou mudamos os nossos hábitos alimentares já, ou pagaremos o preço na forma das chamadas doenças da civilização: moléstias não transmissíveis, crônicas, auto-imunes e a grande, a assustadora epidemia mundial de obesidade, cuja raiz maior provém do Desequilíbrio Essencial...

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