A PERFEIÇÃO VEM COM A PRÁTICA

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segunda-feira, 5 de abril de 2010

NAO JOGUE A CULPA NO OUTRO

Não jogue a culpa no outro

por Angelina Garcia
O terreno limpo, aplainado, e a terra fofa aguardando o plantio trouxeram à Camila uma sensação de bem-estar, como se houvesse se livrado de toda erva daninha; aquelas que insistem em nos incomodar. Agora era só colocar os tufos de grama, regar periodicamente, até ver estendido o tapete verde. Seria feliz para sempre.

"O que foi, ou está posto, não muda simplesmente porque encontramos o seu ponto de origem, que, aliás, pode ser a conjunção de vários fatores; mas podemos, isto sim, alterar a influência que exerce sobre nós, a partir do momento em que passamos a lhe conferir outro valor..." A alegria durou até que folhas estranhas irrompessem daqui e dali. Teria sido o vento, o passarinho xereta, o responsável por transportar as sementes indesejáveis? Talvez já estivessem por lá, sem se dar a conhecer. Pouco importa. Enquanto Camila se preocupava em identificar quem empanava sua felicidade, o mato crescia, cobrindo o gramado. Mesmo que descobrisse, não pararia o tempo, o vento, nem exterminaria a passarada.

Qualquer experiência de vida nos mostra que não há como manter o terreno limpo, imaculado, ainda que estejamos atentos às intromissões, sejam na erupção de raízes profundas, despertadas em retornos a vivências desagradáveis, sejam provocadas por situações pontuais, momentâneas, ou aquelas às quais nos sentimos presos. Não nos é dado o privilégio da plenitude inabalável; cavamos alguns desses momentos no cotidiano, a duras ou leves penas. Seja dentro, fora, alguma coisa está lá prestes a nos perturbar. É uma conjuntura da qual não se pode escapar, mas é possível, sim, amenizar seus efeitos. Cada um a seu modo.

O primeiro passo, me parece, é parar de procurar culpados.

Ninguém nega a importância em se conhecer o que, dentre as condições internas e externas, atrapalha nosso bem-estar; perigoso é ficar mergulhado nelas, utilizando-as, de algum modo, para impedir transformações. Chega o momento em que é necessário deixar de culpar a mãe, o pai e quem mais for, ou as circunstâncias irremediáveis, pelo que deu errado em nossa vida. Continuará dando, se não mudarmos o foco.

O que foi, ou está posto, não muda simplesmente porque encontramos o seu ponto de origem, que, aliás, pode ser a conjunção de vários fatores; mas podemos, isto sim, alterar a influência que exerce sobre nós, a partir do momento em que passamos a lhe conferir outro valor, começando a pensar, por exemplo, no que resultou positivo de uma experiência que naquele instante tenha sido traumática. Há sempre um outro lado da coisa.

Na pressa para encontrarmos um culpado, esquecemo-nos, inclusive, que outra pessoa poderia reagir de modo diferente ao evento, havendo, portanto, sempre muito de nós fazendo as coisas serem como são.

A referência para se iniciar um processo de transformação não diz respeito ao que o outro fez ou faz comigo, mas ao que eu estou fazendo por mim. Enquanto gastamos energia buscando os responsáveis pelos nossos infortúnios, perdemos a oportunidade de reconhecer em nós as possibilidades de saída.

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