A PERFEIÇÃO VEM COM A PRÁTICA

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segunda-feira, 5 de abril de 2010

POR QUE O DIFERENTE NOS AMEAÇA TANTO?

por Angelina Garcia
"Considerar diferenças me ajuda a repensar posições, serve como parâmetro para que eu possa reafirmar ou jogar fora valores, convicções. Não há como fazer isso sem incômodo" É comum reconhecermos certo prazer em algumas pessoas ao se referirem a seus pares, seja nas relações afetivas, familiares, profissionais, como “iguaizinhas” a si. Perceber-se semelhante ao outro, conforta, apazigua, evita confronto, conflito. É assim como se o outro nos confirmasse, deixando-nos, portanto, seguros.

O contrário aconteceria frente ao diferente. Entretanto, diferença não significa necessariamente divergência, no sentido de afastamento, desarmonia, se considerarmos a idéia de completude.

Dizer que o outro me completa não diz respeito apenas ao fato de que ele sempre tem a me oferecer alguma coisa que não tenho, mas desejo ter, como conhecimento, percepção, por exemplo. Que aprendemos com o outro, já sabemos. Completar não deve ser entendido só como o acréscimo daquilo que identifico como falta em mim, mas também do que nem sei que me falta porque desconheço. É me despertar tanto para o que ignoro fora, como para o que ainda não percebi em mim. Mas ao mesmo tempo em que admito a necessidade humana dessa completude, esforço-me para controlá-la. Eis aí mais uma de nossas contradições.

Reconhecemos que haja sempre um outro lado servindo como referência; ou seja, uma coisa só é uma coisa na relação com outra que é outra coisa. A questão é o espaço que damos a essa outra coisa. Não se trata de questão moral, do tão propagado respeito à diferença, ou de aceitação do outro. Posso dizer que respeito, que aceito, quando ignoro, faço vista grossa, finjo não me incomodar, mas permaneço cercado pelas “minhas verdades”, como se pudesse, de fato, permanecer afastado; como se de algum modo pudesse me livrar da contradição que me constitui, livrar-me desse diferente, ou mesmo oposto que, em algum lugar, continua fazendo sentido em mim.

Trata-se de perder o medo da instabilidade ao sair da zona de conforto e colocar minhas verdades à prova. Considerar diferenças me ajuda a repensar posições, serve como parâmetro para que eu possa reafirmar ou jogar fora valores, convicções. Não há como fazer isso sem incômodo. É exatamente no incômodo que me obrigo a rever o que acredito ter de tão estável. Muitas vezes é preciso mergulhar no caos, no mal-estar que a diferença me provoca, para que se possam emergir novas idéias, novas sensações que me possibilitem transformações efetivas.

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