por Angelina Garcia
Quem compete o tempo todo não deixa espaço para a felicidade
Marília sempre dividira tudo com sua melhor amiga, Roberta; mas de algum tempo para cá passou a sentir um certo constrangimento em lhe contar as coisas boas de sua vida, pois tinha a impressão que isso aborrecia a amiga. Foram várias as ocasiões nas quais pode perceber sua indisposição, como daquela vez que voltou com o namorado e Roberta revirou os olhos. Talvez porque perderia a companheira de cinema. De outra, quando deu a notícia de que arranjara um emprego melhor, a amiga respondeu com um muxoxo. Pudera, há tanto tempo trabalhando juntas. Desta vez seria diferente, pensou. Correu para dividir a notícia tão esperada.
- Menina, você não vai acreditar, consegui aquele estágio no exterior.
- Que bom.
Embora seca, a resposta não parecia desagradável. Havia, entretanto, alguma coisa no tom de Roberta que mostrava o seu descontentamento. Era hora de admitir que a amiga não torcia por ela.
É evidente que para quem compete o tempo todo, confrontar-se com as conquistas alheias lhe seja muito difícil. O que lhe chega primeiro é a constatação de não possuir aquilo que o outro diz ter conseguido, e sofre com isso a ponto de, mesmo sem perceber, rejeitar a informação com um muxoxo, uma revirada de olhos, um hum, do outro lado da linha. Pode ser, também, que mude rapidamente de assunto, ou, tomada pelo inesperado, reaja com efusiva alegria.
Identificar pessoas que agem assim não é tarefa simples, porque elas também têm outras formas de agir, que contribuem para uma aproximação. É comum se condoerem com o nosso infortúnio e se colocarem inteiramente disponíveis quando precisamos, oferecendo espaço para que falemos de nossas perdas, desilusões e frustrações, ainda que, nem nesses momentos, deixem de competir, apontando logo os problemas delas como maiores, mais trágicos.
É importante observarmos as consequências de se conviver com pessoas que competem o tempo todo. Primeiro a mágoa, ao percebermos que alguém de quem gostamos não acolhe nossas alegrias; depois a perda da espontaneidade, quando passamos a escolher o que dizer, enfatizando os aspectos desagradáveis da nossa vida, que, sabemos, serão bem recebidos e, ainda, o desconforto, como se não tivéssemos direito ao objeto conquistado.
Quem mantém relações desse tipo precisa rever seu comportamento. Se é alvo da competição, deve se perguntar o quanto contribui para manter esse jogo, o quanto necessita ocupar essa posição. E se realmente sente afeto pelo amigo que compete, não custa alertá-lo sobre o mal que está fazendo a si mesmo, pois enxergando no outro apenas um concorrente, não só correrá o risco de afastá-lo, como se sentirá constantemente ameaçado, perdendo a oportunidade de ser feliz com as próprias conquistas, sempre insuficientes.
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